quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Confraternização

Mais um fim de ano se aprochega. E a falsidade, que esteve presente pelos doze meses, chega a seu ápice no mês mágico do natal. Confraternizações de amigos que se odeiam; de amigos que não se conhecem. Um brinde à dissimulação e frivolidade!

Amigos não precisam de confraternização, porque esta é feita o ano todo, mesmo que passem meses sem contato, pois amigos não precisam se falar todos os dias. A confraternização é apenas uma máscara para o desejo ardente de uma diversão, muitas vezes, superficial. E não importa a idade, apesar de se manifestar muito mais nos jovens.

Em fim de ano, tudo é lindo. Todos são educados e cordiais. Todos os defeitos são relevados, os mesmos defeitos dos quais durante o ano, foram condenados. Em fim de ano, os abraços são mais apertados, os beijos mais calorosos e a omissão da verdade, muito bem trabalhada.

Em fim de ano, a turma que se reúne, é grande, e eu sempre me perguntei: "Como essas pessoas conseguem ter tantos amigos?" Pois eu sempre tive pouquíssimos, apesar de gostar de muita gente e saber que muita gente também gosta de mim, assim como, infelizmente, existe o inverso. Mas, ao conhecer muitas dessas grandes turmas, pude comprovar aquilo que o grande pensador Aristóteles já sabia há mais de dois mil anos: “Ter muitos amigos é não ter nenhum.” Ou também, como dizia o saudoso poeta francês, Abel Bonnard: “O ser humano consola-se com muitos amigos, quando não encontrou nenhum.” E, independentemente dessas pessoas terem passado por desilusões para chegar a essa posição, o fato é que a razão está ao lado delas, pois qualquer pessoa que experimentar participar de qualquer grupo desses, também, assim como eu, comprovará. No dia seguinte, os comentários sobre como alguém ficou bêbado daquele jeito, ou como aquela pessoa teve coragem de ter feito aquilo, ou como tal pessoa estava feia, ou, ainda, como foi ridículo um dos amigos ter falado algo, é sempre certo. E que me desculpem as mulheres, mas a falsidade está muito mais presente no grupo delas.

E assim como os defensores dos oprimidos, ou a poesia demasiada, ou ainda, “intelectuais” cabeludos e de sandália me irritam, alegria coletiva traz em mim, o mesmo sentimento: repulsa, aversão, repugnância.