terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Sexo, drogas e... música ruim

Parece inútil tentar refutar esse Carnaval contemporâneo que tomou conta de nossa cidade, São Paulo, e até de nosso país. Qualquer cidadão que tentar esta proeza será condenado de pronto. Os jornais (impressos, televisivos etc.) não se cansam dos velhos elogios: “Ô, povo brasileiro, que coisa linda”, “Essa é a cultura do povo brasileiro”, “Povo brasileiro, mostre ao mundo sua beleza”, e blá blá blá! Neste contexto, é muito delicado tentar uma posição adversa.

Não vou aqui também ser demagógico e dizer coisas do tipo: “Quais motivos têm as pessoas para se divertirem, enquanto o país vive uma crise catastrófica?”, ou “Por que não investir esse dinheiro na saúde?” ou ainda “Para Carnaval as pessoas têm dinheiro e disposição...”, e blá blá blá. Uma coisa nada tem a ver com a outra, saúde é saúde, educação é educação e cultura é cultura. Cada orçamento em seu devido lugar. Por outro lado, é claro e evidente que há algumas exceções. Aqui na subprefeitura do Butantã, São Paulo, por exemplo, o orçamento para a cultura sempre foi irrisório, ao ponto de os oficineiros da Casa de Cultura, que por anos foi subordinada a esta subprefeitura, terem de lecionar voluntariamente. Contudo, em épocas de Carnaval, as festas sempre foram fartas. Independentemente de patrocínios mil ou subsídio de secretarias, caso haja mesmo, a questão é de princípio.

O que o Brasil tem de melhor no âmbito cultural artístico é o multiculturalismo, do Oiapoque ao Chuí. Mil Brasis em apenas um.

Obviamente, o Carnaval, já praticado há tantos séculos, está dentro deste multiculturalismo. Deste modo, minha crítica é em relação ao entorpecimento moral causado pela concepção de Carnaval contemporânea, ao menos em alguns municípios deste imenso Brasil. Isto já podia ser visto nas pistas fechadas destinadas somente a gente “seleta”, ou seja, quem pode pagar se diverte, quem não pode, assiste de casa. Qual seria a saída? Blocos de rua. Entretanto, o cidadão de hoje não é mais o cidadão de setenta anos atrás. E qual então é o resultado da proeza do Estado? Sexo, drogas e... música ruim! Ao menos quando o tríduo era com o rock’n’roll, podíamos nos deleitar com Beatles, Stones, Os Mutantes etc. E por mais que alguns critiquem tal gênero, seria grande burrice igualar uma destas bandas a Wesley Safadão (que vergonha ter de citar este sujeito), Claudia Leitte, entre outros. Mas o lixo moral não está só na Bahia, lugar onde os supracitados se apresentaram agora em 2016, aqui no sudeste a coisa anda de mal a pior. Veja São Paulo, por exemplo, onde os tais bloquinhos da Vila Madalena são pautados por bebidas alcoólicas, libertinagem excessiva, entre outras desgraças amparadas por dirigentes que levam mérito destruindo a imagem daquilo que um dia foi Carnaval. Parece-me que as pessoas pensam que só pelo Carnaval ser nas ruas tudo vale. “Ah, essas pessoas são minoria, Diego!” Para esta assertiva cito Gregório de Matos: “O todo sem a parte não é todo,/ A parte sem o todo não é parte,/ Mas se a parte o faz todo, sendo parte,/ Não se diga, que é parte, sendo todo.”

Tão grave quanto esta situação vergonhosa e devastadora, é ver colunistas de renome elogiarem a postura da prefeitura por esta “fazer” algo pelo povo. Fazer o quê? Colocar um amontoado de pessoas no cio umas sobre as outras? Fazer um bando de gente se deleitar com respaldo de música ruim e cachaça? Tudo bem, você, que está lendo este artigo agora, se coloca fora deste grupo de palermas, não é? Parabéns a você, é por isso que a exceção faz a regra. Ainda assim, peço que releia Gregório de Matos. Olhe o nível dos homens que vão para os tais ditos carnavais de rua: 61% deles acham que mulher que vai pular carnaval não pode reclamar de cantada; 49% acham que mulher “direita” não deve ir a carnavais. Mais de 15% dos jovens, maioria nesses carnavais, estão desempregados. Talvez quando tiverem uma ocupação verdadeira, perceberão que a vida é mais que festas e “liberdade”.

Os militantes petistas atribuem a Fernando Haddad o crédito pelos blocos de rua, e não percebem que isso, na verdade, é um descrédito. Mas ainda assim estão errados. O prefeito da maior cidade do país não criou nada! Na era Serra essa palhaçada já existia, o que Haddad fez foi aumentar a orgia. Haddad não nega ser petista, à medida que nada cria, só se apropria das ideias alheias. Não quero dizer com isso para acabar com o Carnaval brasileiro. Ainda existe bom Carnaval, veja Olinda e seu frevo, que, até onde imagino, mantém sua tradição. Também não é minha intenção sugerir acabar com quaisquer festas. Minha crítica é somente uma provocação ao entorpecimento moral, pautado por música ruim e posturas primitivas, que alguns carnavais levam seu povo a praticar. (Quando digo “música ruim”, aviso aos nacionalistas que não é porque é samba que a coisa é boa. O samba é um ritmo e não um gênero musical.) A questão da música é ainda mais séria, ela é ruim Brasil afora, ao menos na grande mídia, independentemente de carnavais existirem ou não.

Para esses carnavais desregrados que citei serem um pouco melhores, seriam necessárias muitas e muitas e muitas regras. E quando estas regras chegarem, os blocos ficarão vazios, sabe por quê? Porque o povo não quer regras!