quinta-feira, 25 de outubro de 2018

#Salve-seQuemPuder

Estamos inseridos num momento conturbado, momento este que nós mesmos criamos, diga-se. Discussões morais, políticas, debates do que é certo ou errado... “Polarização”. Esta é a palavra da moda. Não obstante, os tais polarizados estão mais próximos do que parece. Adiante.

As frases a seguir, de ambos os lados, foram ditas obviamente num contexto maior. De qualquer forma, parece-me suficiente para evidenciar que os dois lados da polarização instaurada, apesar de diferentes tipos de incompetência e de maldade, não estão tão distantes assim.

“Tem que (sic) fechar o Supremo Tribunal Federal.” (Wadih Damous, deputado federal - RJ - do PT e ex-presidente da OAB) – abr/2018;

“Se quiser fechar o STF sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe, você manda um soldado e um cabo” (Eduardo Bolsonaro, deputado federal - SP - do PSL) – jun/2018;

“Dentro do país é questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, o que é diferente de ganhar uma eleição.” (José Dirceu, ministro da Casa Civil no governo Lula e ex-presidente do PT) – set/2018;

“Os poderes terão que (sic) buscar a solução, se não conseguirem, chegará a hora em que nós teremos de impor uma solução.” (General Mourão, vice na chapa de Bolsonaro) – set/2017;

“Bolsonaro é uma figura desimportante no meio militar, mas o Mourão, por exemplo, foi ele próprio torturador.” (Fake news espalhada por Fernando Haddad, candidato à presidência) – out/2018.

Além das declarações esdrúxulas que vêm igualmente dos dois lados, o PT e o Bolsonaro combateram e votaram juntos muitas pautas. Ambos foram contra o plano real; contra a MP 482, sobre a conversão da moeda; contra a quebra do monopólio estatal do petróleo; contra a quebra do monopólio das telecomunicações; contra proposta de reforma administrativa, no segundo mandato de FHC; contra a reforma da Previdência, naquele mesmo mandato, entre muitas outras coisas.

Ainda, ambos, PT e Bolsonaro, andam fazendo terrorismo eleitoral em campanha política (como já demonstrado acima), com ameaça, agressividade, acusações, promessas demagógicas etc. O próprio Lula, da cadeia, escreveu uma carta aos brasileiros na qual dizia “chegamos ao final (sic) das eleições diante da ameaça de um enorme retrocesso para o país, a democracia e nossa gente tão sofrida”. Vide o terrorismo atacando outra vez. Por que o PT nesses treze anos não fez essa gente deixar de ser sofrida? Toda eleição o PT espalha que o opositor acabará com o Bolsa Família, com os direitos dos trabalhadores e blá-blá-blá... Bolsonaro, porém, não fica atrás, e vive espalhando a notícia de que se o PT entrar no poder ficaremos sob uma ditadura bolivariana e blá-blá-blá... O PT nunca foi um partido comunista. Bolsonaro tenta se alinhar com a ultra-direita internacional: contra as minorias, com o militarismo e o armamentismo; o PT tem uma linha bem conhecida de arrogância, empáfia e uso indevido da máquina pública. Isto é, ambos são linhas diferentes de um mesmo populismo.

Os militantes de ambos os lados também não deixam a desejar, e mostram-se intolerantes com a adversidade, mostram-se ariscos, nervosos, inventando e proliferando notícias falsas em prol de seu candidato; ambos têm seu candidato como salvador da pátria, como super-herói, como Messias. É claro que a maior parte dessa força é somente sob o escudo de seus monitores, caso amanhã haja uma guerra civil no país, e não haverá, não tenho dúvida de que a maioria não sairá para o confronto.

Na prática, contudo, temos, de um lado Bolsonaro, que está no Congresso Nacional há quase trinta anos, e não se tem notícias dos feitos que fez à sua nação; e do outro, Haddad, representante do PT, que ficou no poder tempo suficiente para que pudéssemos nos orgulhar de nosso país e seus serviços, mas não é o que acontece, estamos piores do que quando ele iniciou o mandato.

Nessas circunstâncias e no panorama que nós mesmos nos colocamos, teremos de esperar mais alguns quadriênios para tentar de novo.

A quem é religioso, sugiro rezar; a quem não é, sugiro tornar-se um. #Salve-seQuemPuder.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Fala sério, PSOL!

O PSOL foi fundado em 2004 por pessoas que foram expulsas do PT, e foi criado, segundo as palavras de um dos fundadores, Babá, para “enfrentar o governo corrupto de Lula que se aliou a uma verdadeira quadrilha”. Ele se refere a pessoas como Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Renan Calheiros, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima (sim, o homem da mala com cinquenta milhões de reais), Collor de Mello (sim, o principal opositor de lula em 89, que venceu a eleição e sofreu impeachment com o apoio do PT), Michel Temer (sim, o tal “golpista”), entre outros. Isto é, todos os perfis político-partidários que o PT sempre repudiou fizeram parte de seu governo.

Hoje, Guilherme Boulos, candidato à presidência da República pelo PSOL, não economiza insultos a seus adversários, enquanto eleva Lula (muito provavelmente com a intenção de cooptar os votos do presidiário que teve sua candidatura impugnada pela justiça). Um dos presidenciáveis que Boulos mais insulta é Henrique Meirelles, a quem “acusa” de banqueiro. O mais grave é que ninguém tentou alertar o candidato pelo PSOL do seguinte fato: Meirelles foi um dos homens mais fortes de Lula, a quem Boulos defende com unhas e dentes. Será que há alguma contradição nisso tudo?

Babá, fundador do PSOL, em entrevista ao UOL, disse estar revoltado com seu partido. Primeiramente, porque para as eleições de 2018 não houve prévias, isto é, Boulos, o lulista, foi feito candidato sem uma votação interna no partido. Isso que é democracia, hem; secundariamente, porque o PSOL, que diz lutar tanto contra a corrupção e a direita, tem apoiado abertamente o PT, partido que esteve à frente dos maiores escândalos de corrupção da história, além de ter se aliado com a pior espécie da política do país, inclusive com o PP (sim, do Maluf), partido da ditadura militar, aquela ditadura, de direita, que Boulos é incisivo em criticar, só não critica a aliança que seu super-herói, o Lula, fez com os homens da... ditadura.

É claro que eu não vou estender ainda mais este artigo para falar da corrupção que o próprio PSOL também comete, como o famigerado caso, já admitido pelo partido, da presidente da legenda em 2013 e deputada pelo RJ, Janira Rocha, acusada de cotização e desvio de verba; ou ainda a "farra das passagens aéreas" envolvendo a fundadora do PSOL, candidata à presidência em 2014, Luciana Genro; ou a condenação do deputado federal Edmilson Rodrigues por fraudes na compra de livros didáticos e desvio de verbas do FNDE; ou o caso envolvendo Leonel Brizola Neto, acusado de receber propina junto a Eduardo Paes (hoje forte candidato ao governo do RJ) durante as obras das Olimpíadas no Brasil; ou, para encerrar, os 450 mil reais que o então candidato à prefeitura de Macapá, em 2012, Clécio Luís, recebeu da Odebrecht para sua campanha vitoriosa. Por ser um partideco insignificante na política nacional, o PSOL possui casos de corrupção de partido grande.

Assim como o PT, o PSOL só é bom em uma coisa: propaganda. E de limpo não tem nada.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O Bem que Esperamos na Omissão

Sempre tive a concepção de que pagar os impostos em dia era o bastante para contribuir com a sociedade, já que este aporte tem por objetivo ser revertido em serviços públicos. De fato isso tem sua lógica, do contrário eu não teria deixado, por várias vezes, intelectuais sem saber o que dizer enquanto palestravam contra a classe média, dizendo que esta só pensa no próprio umbigo. Há uma tendência, principalmente por parte da esquerda romântica, em rebaixar a classe média e a classe alta com a justificativa de que sua única preocupação é com o bem-estar de sua família, e o restante que se “exploda”.

Aquela minha premissa de que pagar os impostos basta, é uma grande mentira na qual sempre acreditei. É necessário, mas não suficiente. Não basta o cidadão contribuir indiretamente com a saúde pública enquanto alimenta o setor privado desta área; não é suficiente contribuir indiretamente com a educação pública enquanto alimenta a educação paga. Numa republiqueta como a nossa, com uma democracia claramente escrachada, a sociedade ainda não acordou para o seguinte fato: nenhum serviço público melhorará enquanto não se enfrentar o verdadeiro inimigo, o lobby. Não é o caso de destruir o empresariado ou o serviço privado do país, também sempre fui contra esta premissa, é o caso de ser alertado que para um país funcionar com dignidade e justiça, o serviço público precisa funcionar decentemente, e este não funcionará enquanto houver pessoas lutando contra ele, que é na verdade uma luta contra a própria democracia.

Há uma força maligna em Brasília corrompendo e sendo corrompida. Enquanto houver um esforço desmedido por parte do setor privado em derrubar, por exemplo, o colégio público apenas para que a universidade pública sirva exclusivamente para os seus, como fez Fleury Filho no governo de SP, a educação não será eficiente. Neste caso, não adianta injetar nem 50% do PIB na educação. E qual é a solução que uma ala da sociedade encontra? Cotas. Não! Deve-se lutar contra o lobby da indústria educacional. Veja bem, não quero destruir a educação privada, só não quero que destruam a pública. Deve-se lutar contra as ações do governo em investir em colégios particulares. Sim, nosso governo fornece verba para seu concorrente direto, assumindo, assim, que o serviço que ele próprio presta não é bom. O próprio Prouni é uma afronta do Estado com seu próprio serviço.

Enquanto houver um esforço por parte de convênios médicos e hospitais particulares para derrubar o SUS apenas para que a sociedade adquira cada vez mais o serviço privado, o serviço de saúde não será eficiente, independentemente de quanto dinheiro se invista. É nosso imposto indo para o ralo. Enquanto os congressistas não pararem de se vender, nós aqui embaixo continuaremos a lutar para sobreviver, nos degradando um a um.

Em época de eleição, é comum ouvir pessoas com os famigerados discursos clichês pedindo mais saúde, mais educação, mais segurança e blá-blá-blá, mas o que será que elas estão fazendo para contribuir? Afinal, somos ou não somos partes vivas de uma mesma célula?

Eu disse que há uma força em Brasília corrompendo e sendo corrompida, mas o que nós estamos fazendo para contribuir com nossa sociedade? O que fazemos além de reclamar da política ou de candidato A ou B? Em quem você votará para deputado federal/estadual e senador? São esses deputados e senadores que se vendem para o lobby que acabo de mencionar. Como você, no dia a dia, cobra os agentes públicos nos quais você votou? Manda ao menos um e-mail, que é facilmente encontrado na rede? E se não votou, de que outra forma contribui? Acompanha os projetos que ele, o parlamentar, cria, relata, aprova? O que você faz no dia a dia por aquele que mais precisa de auxílio? O que você faz além de sentir pena dos mais pobres quando estes são assolados por tragédias já anunciadas? O que você faz além de ficar satisfeito que a tragédia não foi com um dos seus? O que você faz além da internet? O que você faz pelo bem social além dos discursos raivosos na rede, ou além de defender bandidos travestidos de políticos? Por fim, o que você faz em prol de seu semelhante?

A redoma envolta em paredes digitais é o melhor escudo para os covardes e omissos.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

O Perigo de Elegermos Bolsonaro

Escrevo este artigo impulsionado por uma coluna do jornalista William Waack, publicada no Estadão ainda este mês.

O jornalista passou dois meses estudando e entrevistando a alta patente da ativa das três armas. Considerei as posições preocupantes, apesar de não haver, por enquanto, nenhum tipo de ameaça evidente. Inclusive, os militares, desde o início das discussões acerca da volta da ditadura militar que uma ala da sociedade trouxe à tona, sempre negaram qualquer tipo de possibilidade de qualquer tipo de intervenção militar. A coluna de Waack, no entanto, traz alguns alertas:

“Oficiais generais não manifestam qualquer disposição para a tal ‘intervenção’ militar. Mas se perguntam, sem conseguir responder, o que fazer se houver rompimento de um tecido social já ‘esgarçado’ (expressão muito usada por eles). O cenário mais temido é a quebra de lei e ordem ‘no caso de uma besteira qualquer do STF beneficiando o Lula’ ou, pior, da reconhecida falta de contingentes para atuar no caso de greves de PMs ou a paralisação do País por bloqueios simultâneos de rodovias.”

Em qualquer tipo do tal “rompimento de um tecido social”, seja lá o que isto signifique, o exército nada pode fazer sem uma ordem direta dada a ele. Essas indagações não devem ser levantadas pelas Forças Armadas ou por alguém que fale em nome delas. A coluna apresenta ainda:

“Oficiais de alta patente já admitem a possibilidade de um presidente Jair Bolsonaro (‘para nós não é mais capitão, é um político civil’), em relação a quem não mais se declaram refratários, embora lhe atribuam escassa sabedoria política e pouca capacidade de articulação para enfrentar um Congresso provavelmente hostil.”

Capitão é sempre capitão e general é sempre general. Não há garantias para nós de que caso um capitão assuma a chefia do Estado, seus então superiores passarão a ser seu subordinado, sobretudo quando esses superiores o enxergam como alguém com “escassa sabedoria política e pouca capacidade de articulação”. O general Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro, forneceu-nos algumas visões perigosas. Defendeu ele uma nova Constituição, mas, veja só, sem o Congresso. Citou-nos exemplos de Constituições brasileiras feitas sem o Parlamento, mas não se ateve, todavia, que à época em que ocorreram tais eventos, o Brasil ou era monarquia absolutista ou ditadura. Ainda, o general deixou claro que esta não é uma proposta de Bolsonaro, o que torna a coisa ainda pior, já que é o general falando além do capitão. Como será esta chapa na prática?

Não há duvida, ainda, de que, caso Bolsonaro seja presidente da República, os ministérios, em grande parte, serão ocupados por militares. Ele mesmo já admitiu a possibilidade em sabatinas. O próprio PSL é um abrigo de combatentes. Concorrendo ao Senado, por exemplo, está o major Olímpio.

Volto à minha observação anterior: generais no comando de ministérios comandados por um chefe de Estado capitão. O prognóstico não pode ser bom. Afirma a coluna de Waack:

“O general Heleno é um dos principais canais entre Bolsonaro e setores superiores da ativa, em que se ouve o palpite de que ‘Bolsonaro daria um tiro certo se nomeasse o Heleno seu chefe da Casa Civil, pois tem cabeça política melhor que a dele, e se pusesse um civil no Ministério da Defesa’, disse um general de destaque.”

Ainda, se Bolsonaro tentar implantar qualquer coisa parecida com uma ditadura no país, e isso não é remoto como sua base de raciocínio, a possibilidade de uma intervenção por parte de seus superiores na patente militar é ainda maior. É claro que hoje nossas instituições são fortalecidas e temos uma imprensa forte e livre, mas ainda assim há tal risco, já que o Congresso brasileiro é montado por gente fraca e covarde.

O ponto é, portanto, que nenhum militar reformado de baixa patente e que tem cabeça no lugar busca ser chefe de Estado; patente inferior não deve ser colocada acima dos generais, como afirma o professor e intelectual Cacildo Marques.

O Brasil tem precedente nesse assunto, só não enxerga quem não quer. Em 1956, lembra Cacildo, a Aeronáutica tentou dar um golpe no então eleito coronel da PM Juscelino Kubitschek, e somente não foi bem sucedido porque o marechal Lott apaziguou a situação, do contrário, teria havido uma guerra civil no país. No mundo, e encerro, houve outras tentativas de golpe contra a baixa patente. Cito dois exemplos: contra o cabo Hitler e, mais recentemente, contra o coronel Hugo Chávez.

Os Riscos de se Eleger o PT

É necessário que o eleitor tenha em mente alguns dados antes das eleições, e não depois delas, como foi em 2014, quando Dilma Rousseff dizia nos programas que estava tudo caminhando bem, e somente após o pleito o Brasil teve acesso à verdadeira crise, que, diga-se, já existia. Isto é, nada estava bem havia tempo.

No programa do PT deste ano (2018), a retórica é: o Brasil feliz de novo, querendo dizer que à época de Lula era tudo maravilhoso, e somente passou a ser ruim após Temer assumir o governo. Vamos lá.

Em primeiro lugar, devemos desconfiar de partidos que possuem um deus, como é o caso do Partido dos Trabalhadores. Seu plano de governo deste ano começa dizendo que Lula é uma ideia. Veja a que nível chegou seus religiosos e como estes enxergam seu líder. Haddad não tem independência, ele foi ungido por Lula, basta ler a carta do ex-presidente, publicada agora em setembro. Lula é quem dá as ordens, de dentro da prisão, como um líder de facção criminosa. Avante aos dados anunciados por mim.

A fala de que o PT tirou 36 milhões da situação de extrema pobreza é falsa. Foi por meio da Secretaria de Assuntos Estratégicos, em 2012, no governo Dilma, que surgiu a falácia. De acordo com o IPEA, a classe média passou a ter este status caso passasse a receber a partir de R$ 291,00. Deste modo, do nada, milhões de brasileiros foram colocados no patamar de classe média, saindo assim da pobreza. De fato, houve, sim, uma queda na pobreza, não dá pra negar, mas esta foi puxada pela economia desenvolvida ao longo de toda década de 90. Não há, portanto, nada que aponte o milagre Lula como indica a propaganda petista. Os números, obviamente, foram altamente inflados.

A sensação de riqueza que o Brasil viveu no primeiro mandato de Lula se deu pelo boom de crédito fornecido pelos bancos, já que o Brasil havia conseguido controlar a hiperinflação das décadas anteriores. Este controle inflacionário se deu, não no governo Lula, mas a partir de Itamar Franco. Lula apenas pegou um momento bom que a economia vinha vivendo. A população de fato consumiu mais, mas foi através de crediário, e logo após essa farra geral, o que se viu foi um show de endividamento, inclusive dos bancos públicos, que assumiram as dívidas quando os privados pisaram no freio.

O PT, em entrevistas recentes, culpou a oposição pela crise. Veja só, a oposição está afastada da situação há quase vinte anos, e mesmo assim é a culpada. E o partido culpa a oposição por esta ter votado, segundo a acusação, contra medidas importantes de 2015 para cá. Mesmo que isso fosse verdade, e não é, a crise vem de muito antes. Como já registrei, o governo Lula foi uma farra e iludiu o brasileiro, que só consumiu tudo o que consumiu por ter tido acesso a créditos desgovernados, não por ter estado em situação financeira satisfatória. Uma hora a conta seria cobrada mesmo, e foi. Nem vou entrar no mérito da corrupção, que sem dúvida não se equipara a nada que qualquer outro tenha feito. O PT é um partido corrupto na essência, o próprio ente jurídico é corrupto, e não apenas as pessoas ligadas a ele. O partido enriqueceu os empresários e as empreiteiras, e ao pobre somente a migalha dos benefícios sociais, ad aeternum. Fica fácil tirar alguém da pobreza assim. Também não vou entrar no mérito da condenação de Lula. Ele está preso! Não vou abordar também os tantos outros nomes da cúpula do partido que estão ou presos ou condenados ou que são réus. É este o partido que quer voltar ao poder.

Para o artigo não ficar maior do que deve, vou me ater a apenas dois pontos de má gestão que impulsionaram a crise, antes do que o PT chama de golpe de 2015.

A política de preços de combustíveis. Segundo o fundo de investimentos Antares, acionista da Petrobras, o Brasil, entre 2005 e 2013, vendeu combustível abaixo do preço internacional em cerca de 70% do tempo. Os combustíveis ficaram com preços até 30% menores do que no exterior. Como o país não é autossuficiente na produção de combustíveis, a estatal foi forçada a importar, e assim arcar com os custos. No mesmo período, a empresa investiu irrefreadamente no programa do pré-sal, o que elevou a dívida da empresa a valores superiores a 400 bilhões de reais, levando, ainda, bancos públicos a emprestarem dinheiro, causando um segundo prejuízo. Com toda essa política demagógica para dizer ao eleitor que no governo deles o combustível era mais barato, a empresa foi a breca, e nos forneceu a crise que vemos hoje, fora todo o desvio por meio da corrupção que todos já conhecem. Enquanto os correligionários do partido, que tenta voltar ao poder a qualquer custo, ficam presos ao pré-sal e sustentam seu fetiche pela Petrobras, o mundo planeja parar de produzir carros com os motores convencionais. Já a partir de 2040 haverá uma mudança nesse aspecto. E o PT preso e gastando e perdendo e roubando fortunas com o ultrapassado pré-sal.

O segundo e último ponto de má gestão petista está ligado à conta de luz. Em 2012, o governo, por meio de MP, exigiu que as empresas de energia baixassem o preço da energia elétrica. Para os consumidores, na época foi uma boa notícia, já que o valor foi reduzido em 20%, mas o custo de produção de energia subiu, e as empresas não fecharam suas contas, o que está causando impacto nas contas até hoje (2018). Veja os aumentos em sua conta de luz. Resultado: o setor elétrico adquiriu uma dívida de 100 bilhões de reais, e o Tesouro Nacional é quem teve de emprestar a verba, isto é, o próprio contribuinte.

Deixei de entrar em muitas outras questões, como o fato de a então presidente Dilma ter baixado erroneamente os juros na marra, impulsionando a crise; a desoneração das empresas que a mesma presidente autorizou, elevando o déficit previdenciário; e os milhões de desempregados que o PT deixou ao sair do poder. O partido da maior recessão da história quer voltar ao expediente, e para isso culpa a oposição, fora do poder há vinte anos, pela crise.

Portanto, caro eleitor, nós já sabemos em que o PT é bom: propaganda política. E só.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O Padre Contemporâneo

Sou católico de formação, praticante. Passei a vida, e ainda passo, a escrever e a defender a religião que é a base da cultura ocidental e também da oriental. Evidentemente não fecho os olhos para os erros confessos que ela, a Igreja, cometeu durante sua trajetória. É muito difícil, contudo, discutir religião hoje com pessoas que a única coisa que têm a dizer é “inquisição”. Mas não estou aqui para elogiar, apesar deste preâmbulo. À frente.

Talvez seja por um reflexo da sociedade contemporânea ou talvez apenas pelo “poder” que possuem, precisaria de um estudo mais apurado que eu não possuo no momento, mas atualmente a Igreja, pelo menos à nossa vista, não possui padres ou monges com características de pastores, perfil essencial a quem escolhe dedicar-se à vida religiosa; a vocação pastoral atinge um percentual muitíssimo baixo dos que aí estão a difundir a Palavra. E o que temos hoje? Padres e monges prepotentes, arrogantes, superiores, que não ouvem e que estão focados apenas em mostrar seu poder diante da comunidade à qual estão à frente.

O povo ali embaixo e eu, o padre, representante de Cristo, sobre o presbitério a falar e a expor todo meu conhecimento acerca da vida, da Palavra, do que é certo...

O que importa para a maioria dos religiosos, sobretudo aos que fazem parte de uma ordem ou de uma congregação, é a regra. A liturgia é mais importante que o valor humano. A toalha da cor certa sobre o altar, o posicionamento preciso dos “subordinados”, a forma e o momento que estes devem caminhar para cumprir sua tarefa, a quantidade de vezes que o sino deve ser batido no momento da consagração, o comportamento sistemático de todos os que participam (na verdade, assistem) da Santa Missa, o número de vezes que o turíbulo deve ser chacoalhado... Isso tudo está acima daquilo que está no coração de cada membro da assembleia, daquele que precisa de consolo; isso tudo está acima daquele que sofre, daquele que é parte viva da comunidade, sem a qual ela ficaria enfraquecida.

Ainda, muitos padres famosos e midiáticos depositam seu esforço em manter este status, e os que não o são criticam esse posicionamento sem perceber que fazem a mesma coisa em suas respectivas paróquias. De sorte a Igreja, no cânon 287 § 2º, proíbe o presbítero de exercer cargo político (ele pode se candidatar, mas precisa pedir licença da função), do contrário, a bagunça seria ainda maior, como é no mundo evangélico.

Devo lembrar que a Igreja mantém milhares de hospitais, dispensários, asilos, leprosários, orfanatos, jardins de infância etc. mundo afora, e, portanto, é evidente que ela, de modo geral, mantém seu foco no mais necessitado, como tem de ser. Por outro lado, estou a tratar do corpo a corpo no dia a dia, da relação micro, do contato humano com o paroquiano no cotidiano. Quase não se acha o padre no dia a dia, ele se tornou uma espécie de artista.

Não estou aqui a defender a bagunça total na Santa Missa, como faz o outro lado da moeda, como a Renovação Carismática Católica, quando transforma a celebração em show. A dedicação à liturgia séria é parte fundamental do trabalho, mas a que nível está atingindo esses presbíteros mais conservadores? A que distância eles estão ficando do povo que, diga-se, é a própria Igreja? Qual é o ápice de arrogância e ao mesmo tempo da ignorância que eles precisam atingir para notarem que estão passando dos limites? Quem os convenceu de que são realmente mais clarividentes que todo o restante que está presente em seu convívio? Os puxa-sacos de plantão, que aceitam e reverenciam tudo o que fazem? Não, eles não são o que pensam de si mesmos. A maioria desses presbíteros contemporâneos é totalmente prolixa na hora de falar, a maioria deles canta mal, a maior parte não sabe lidar com o povo, exatamente porque se enxerga acima dele. Talvez a única coisa na qual eles sejam bons seja mesmo na parte técnica, no conhecimento, mas se conhecimento bastasse, o Iluminismo ou o Marxismo ou o Idealismo teriam salvado o mundo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Museu Nacional

Serei bem objetivo neste artigo. Avante...

Houve, no Rio de Janeiro, uma manifestação com o objetivo de protestar a favor do Museu Nacional e repudiar a tragédia que o acometeu. Evidentemente, e como era de se esperar, a manifestação virou também, e não por acaso, palco político. O museu foi na verdade apenas o start da manifestação.

Entretanto, ainda que o protesto tivesse tido mesmo a honesta intenção a favor do museu, aqueles que protestaram, ao menos os pobres mortais, não tinham consigo a real situação. Digo “pobres mortais” porque à frente da manifestação estavam partidos políticos da esquerda romântica, como o PSOL e o PCdoB.

Integrantes dos partidos socialistas administram a UFRJ, universidade responsável pelo museu em questão, desde 2015. Não é só o reitor (Roberto Leher) que é do PSOL, mas também a vice-reitora (Denise Fernandes), a pró-reitora de Extensão (Maria Mello) e o pró-reitor de Pessoal (Agnaldo Fernandes) Ainda, o pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (Roberto Antonio Gambine) é do PCdoB, par do PSOL. Estes partidos não vencem eleição para governos, mas possuem seus cargos institucionais.

Durante o período administrado pelos partidos da esquerda infantil, a UFRJ recebeu do governo federal mais de seis bilhões de reais (segundo o Ministério da Fazenda), inclusive do governo considerado, por eles, golpista. Quanto, desses bilhões, foi repassado ao Museu Nacional? Menos de quinhentos mil reais por ano. Para onde foi o restante? Vamos a alguns números apenas do primeiro semestre de 2018: em primeiro lugar, 90% do orçamento são destinados à folha de pagamento; mais de dois milhões foram gastos em combustível, três milhões foram gratificações para os servidores; também foram compradas mais de duzentas passagens aéreas e mais de 1700 diárias de hotéis, no Brasil e no exterior; mais de três milhões foram gastos com telefonia... Isso tudo tem um nome: esbanjamento de dinheiro público. Imagine um partido desses no comando de uma cidade, de um governo, da união... Será que a manifestação a favor do Museu Nacional era contra eles mesmos? Deveria ser. O Museu Nacional estava jogado às traças por má administração da própria universidade. As notícias veiculadas na grande imprensa contaram apenas uma parte da verdade. Veiculou-se que o Museu Nacional recebia menos do que precisava para se manter, já que o mínimo era quinhentos mil reais/ano. Isso é verdade. Mas quem não repassava a verba suficiente ao museu era a própria universidade, não o governo. E a universidade tinha verba, muitos bilhões, como registrei acima, só era mal gasta e colocada no lugar errado. É como em SP. 5% do ICMS do Estado, por exemplo, é repassado anualmente à USP, e é de responsabilidade da universidade, que é uma autarquia, repassar às instituições sob seu comando, como o próprio hospital universitário, e se ele, o HU, está às traças é de total responsabilidade da administração local.

É claro que o Museu Nacional tem sido largado há vários anos, não somente durante o período comandado por integrantes do PSOL e do PCdoB, mas culpar o governo federal, independentemente do partido no comando da União, pelo desastre, e não fazer o mea-culpa é totalmente descabido.

E se ainda de fato a UFRJ não tivesse tido repasse de verba nenhuma do governo federal, quem comandou o país nas últimas décadas? Ora, veja só, o PT, partido que o PSOL e o PCdoB apoiam. Nossa história foi deixada na mão de quem só se preocupa com política partidária. Cultura para essa gente tem o mesmo significado que tinha para Mussolini, difundir e fazer propaganda do próprio governo. Lastimável.

A UFRJ deve explicações à sociedade brasileira. O PSOL e o PCdoB, autodeclarados santos, como o PT o fez um dia, devem, igualmente, explicações à sociedade brasileira.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

A Ruína Linguística dos Compositores

Houve uma época em que as gravadoras tinham revisores linguísticos que estavam sempre atentos às letras das músicas dos artistas. Qualquer erro gramatical, a letra voltava para ser consertada. Não há sombra de dúvida de que o esculacho do português nas músicas nasceu a partir da Jovem Guarda, movimento cultural brasileiro surgido em meados dos anos de 1960, cujo maior expoente é nosso “rei”. Há ainda a necessidade de citar o nome?

De lá para cá a coisa só piorou, apesar de outros movimentos da mesma época, como o Tropicalismo, continuarem sendo cuidadosos com nosso idioma. Talvez o erro mais comum e que as pessoas não fazem a menor ideia de que o cometem seja o de uniformidade de tratamento, quando não há adequação entre o pronome e a pessoa gramatical que corresponde a ele. Um exemplo prático:

Diz pra mim (banda Malta):
Você está na sombra do olhar
Pensei em te guardar, mas foi melhor assim.


Conseguiu identificar o erro? Pois bem, “você” não concorda com “te”, já que o primeiro está relacionado à segunda pessoa indireta, na prática, terceira pessoa, e o segundo, à segunda pessoa.

Citei apenas um exemplo, neste caso uma banda de rock, mas isso atinge os compositores indiscriminadamente. Em outros gêneros, como o sertanejo universitário e o erroneamente chamado funk, os erros são ainda piores, contendo graves falhas de concordância, por exemplo. Eis aqui:

A culpa é dele (Marília Mendonça):
Se quem tava comigo era ele, a culpa é dele
Quem fez essa bagunça na nossa amizade é ele...

O que cê vai fazer (Fernando e Sorocaba):
As razões que me impedem
De estar com você vai além...


Jogo do Amor (Mc Bruninho):
E é com teu desprezo que eu vou te esquecer
Espera mais um pouco e tu vai ver...


Não se engane, tais desventuras estão também na nova MPB:

Trevo (Anavitória):
Tu é trevo de quatro folhas...

Este seria um assunto com discussões intermináveis. De onde provém tudo isso? É claro, se os jovens crescem escutando um português desse nível, certamente tenderão a escrever e a falar fora dos padrões da língua portuguesa, já que a influência midiática tem sido mais forte que a influência da escola. Por outro lado, esses compositores escrevem assim porque aprenderam assim. Percebeu o ciclo vicioso?

Nem entrei no mérito da essência dos textos das músicas como um todo, ainda que isso também tenha forte implicação no aprendizado do português. À medida que as letras contenham outros problemas, e mais difíceis de serem identificados, como coesão e coerência, e à medida que a linguagem descrita seja fútil e que os assuntos sejam banais, seus espectadores serão impedidos, a partir disso, de ler qualquer coisa que tenha um pouco mais de requinte linguístico, e os bons escritores que possam surgir sumirão de imediato.

Como alguém que só escuta Marília Mendonça, Fernando e Sorocaba e os mc’s da vida conseguirão ler uma obra de Graciliano Ramos, Machado de Assis e Mário de Andrade? Que cidadãos brasileiros formaremos sem essa base cultural?

Eis um dos males, dentre tantos pontos favoráveis, da democratização digital: as pessoas, sobretudo as de mais peso midiático, induzem tantos milhões a erros e à pobreza cultural, que não faz jus a um berço tão rico que o Brasil possui em sua história. Nem mesmo os professores de português, em grande parte, estão preparados a corrigir uma redação atualmente.

A independência dos artistas e seu livramento das condições engessadas do grande campo fonográfico foi sem dúvida uma conquista para sua liberdade, mas que falta nos faz seus bons revisores de português. Eles não consertariam uma educação em ruínas, mas impediriam que tantos milhões fossem afetados com letras tão mal escritas. O compositor de música popular não se dá conta de que precisa se dedicar tanto à escrita quanto à linha melódica. Hoje, porém, não se dedica nem a uma nem a outra.

terça-feira, 17 de julho de 2018

A Ascensão Feminina

Em Macbeth, Shakeaspere constrói um caminho antes de chegar à morte do rei Duncan, e este caminho é traçado muito baseado na esposa do nobre escocês Macbeth, a Lady Macbeth. Esta personagem é o retrato da mulher da cultura celta: forte, imponente e de equivalência com o homem. Para quem nunca leu a obra shakespeariana, a indicação está feita. Outras culturas, como a chilena pré-colombiana, a japonesa pré-budismo, entre outras, são representações de sociedades matriarcais.

O mundo, de tempos remotos para cá, segue, diferentemente de épocas passadas, numa sequência patriarcal. Isso, como resta evidente, aos poucos tem sido vencido. Como toda mudança madura, ela tem de ser construída, conquistada, do contrário será uma transformação líquida, talvez efêmera.

O Brasil herdou uma cultura do patriarcalismo de países islâmicos, ibéricos, dos escravos africanos, dos próprios índios, e a exemplo de outras partes do globo tem tido esta realidade transformada, e muitas vezes tem sido até pioneiro em algumas mudanças. Essa transformação ocorrente no Brasil deve-se, principalmente, aos tupis-guaranis, que diferentemente de outras tribos, valorizavam o papel da mulher. Mesmo diante de sua derrota para os europeus na famigerada guerra guaranítica, a cultura tupi-guarani permanece viva país afora. O feminismo, muito exaltado no pós-modernismo, teve e tem sua força, mas não vou aqui superestimá-la, já que muitas das principais conquistas da mulher no país foram obtidas antes mesmo de sua ascensão.

Diferentemente de países desenvolvidos, como EUA, Inglaterra e a maioria dos países do hemisfério norte, o Brasil tem lei de equiparação salarial entre homens e mulheres. É preciso lembrar, ainda, que há alguns anos, precisamente em 2014, no governo Dilma, o então deputado federal Valtenir Pereira, do PROS de Mato Grosso, propôs uma lei de multa para a empresa que pagasse menos à mulher que ao homem quando ambos tivessem a mesma função. Essa proposta mostrava ou má-fé por parte do deputado ou desconhecimento da lei vigente. Pelo bem da nação a proposta não teve êxito. Caso a nova lei tivesse entrado em vigor, a empresa pagaria uma pequena multa, de cinco vezes a diferença do salário, e continuaria a manter o ordenado da mulher abaixo da remuneração do homem, quando atualmente já é terminantemente proibida tal discrepância. Se a média do salário da mulher está abaixo do salário do homem no Brasil, isto se dá pela média de profissões que cada um exerce no dia a dia (isto seria assunto para outro artigo), e não por receberem salários diferentes estando no mesmo cargo. Ainda assim, esta realidade também tem sido mudada. Hoje é possível ver as mulheres ocupando cargos de liderança, dirigindo grandes empresas, enfronhadas no meio político etc., é claro que num nível abaixo do esperado, mas como disse anteriormente, a mudança é construída, e é importante ser assim se quisermos que ela seja sólida.

No Brasil, há 84 anos a mulher tem direito a voto, há 86 anos a mulher tira habilitação de motorista... Essas são conquistas maciças, que, tardiamente ou não, apontam os triunfos que as mulheres têm alcançado num mundo ainda patriarcal. Durante o governo Médici (1969-1974), um dos governos mais ditatoriais do Regime Militar no Brasil, houve uma campanha de explícito incentivo para que as mulheres fossem tomar café nos botecos ruas afora, já que o comportamento feminino ainda era bastante tímido.

Em outros países, como nos do mundo islâmico, por exemplo, as mulheres até ontem não podiam ir aos estádios de futebol assistir aos jogos, não podiam dirigir, ainda hoje são apedrejadas, caso se comportem fora dos padrões estabelecidos. E havia quem defendesse pessoas como Khomeini, o aiatolá iraniano, causador de todas essas restrições e absurdos cometidos, no Irã, contra as mulheres desde 1979, na Revolução Islâmica; e há ainda hoje quem proteja países com essa cultura. Outras nações islâmicas, como a Arábia Saudita, não são diferentes da cultura misógina iraniana. Evidentemente tais países do Oriente Médio não são bons parâmetros para nós, entretanto, nossos avanços se deram também muitas vezes antes de grandes países mundo afora. Enquanto alguns países proíbem a mulher de algo tão simples, como assistir a um jogo futebolístico, o Brasil tem uma seleção brasileira feminina reconhecida mundialmente; antes mesmo da força do feminismo de 1972, a principal tenista mundial, a brasileira Maria Esther Bueno, já havia estado em primeiro lugar no ranking mundial por quatro vezes, numa época em que eram raras as mulheres que tinham acesso ao esporte, e não somente no Oriente Médio.

É muito claro que no Brasil o vício do patriarcalismo ainda é forte, mesmo que estejamos na frente de grande parte dos países do mundo, principalmente dos mais desenvolvidos. Por outro lado, negar que esta realidade, a do patriarcalismo, tem sido transformada é descabido. (Não tratei aqui sobre a questão da violência contra a mulher, visto que pela dimensão do tema ele merece um artigo exclusivo.)

A exemplo da força de Julieta e Lady Macbeth, não seria exagero Shakespeare usar a mulher brasileira como referência de força e de protagonismo em uma de suas obras, caso o dramaturgo inglês representasse esta era.

sábado, 7 de julho de 2018

Bauman e Steinbeck – O Peso de uma Lágrima

A família Joad, de As Vinhas da Ira, obra de Steinbeck, é forçada a se mudar de suas terras, em Oklahoma, durante a grande depressão americana, em decorrência da seca, das dificuldades econômicas e da execução de dívidas pelos bancos. Dessa forma, a família vê-se obrigada, já que não havia outras opções, a pegar a estrada por dias a fio, sem quaisquer recursos ou perspectivas, em direção à Califórnia à procura de emprego.

Não precisaria externar aqui os tantos entraves que a família encontrou pelo caminho, dos mais simples, como o desconforto da viagem num caminhão carregado, ao mais grave, como a morte surgida no meio do trajeto. Entretanto, não se viu em nenhum momento inércia por parte do grupo em decorrência de sensibilidade à situação, lágrimas a esmo, ou desespero congelante.

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, alertou o mundo sobre o nascimento de uma sociedade líquida, que possui relações líquidas, isto é, tudo muda muito rapidamente, nada é feito para durar. Assim, eis o pensamento pós-moderno: “Mantenha-se num relacionamento enquanto este lhe der alguma satisfação, quando não der mais, troque por outro que a ofereça.” Estes são nossos tempos. A partir disso, resultariam questões como obsessão pelo corpo ideal; culto às celebridades; instabilidade nos relacionamentos, amorosos ou não; obcecação com a segurança etc.

Bauman nos diz ainda, ao tratar sobre a crescente intolerância ao sofrimento, que em uma vida regulada por mercados consumidores as pessoas passaram a acreditar que para cada problema há uma solução, e que esta solução pode ser comprada em uma loja.

Com tudo isso, vemos, grosso modo, uma sociedade apascentada em suaves melindres, em exigências que fariam um humano pré-histórico arrepender-se de ter contribuído com a procriação de sua espécie. Houve, à vista disso, no perpassar dos séculos, uma banalização, um empobrecimento no desenvolvimento daquilo que se chama emotional bond, os laços humanos.

Numa realidade em que a busca incansável e incessante pelo sucesso individual paira na mente das pessoas, e à medida que este triunfo nunca basta, a decepção é certa. Culturalmente nossa sociedade não mais está preparada para o fracasso, haja vista que o rumo que o mundo tomou não permite erros. No contexto líquido, alguém somente é aceito enquanto acerta. Nesta assertiva, certamente está planada um dos motivos de tanto aumento na medicalização psicotrópica infantil nos últimos anos.

Ao não saber lidar com a decepção, pessoas agarram-se em quaisquer postes para externar seu pranto, aproveitam cada oportunidade para chorar por motivos que ninguém imagina, depositam sua sensibilidade no primeiro ombro que aparece e buscam subterfúgios no primeiro olhar que a flecham.

Na lágrima que desce pela derrota do time de futebol do coração, por exemplo, estão implícitos muitos outros motivos; ao se chorar de emoção pela apresentação do filho no sarau do colégio está também o peso de toda uma vida; a criança, ao cair em choro compulsivo por cometer um leve deslize numa simples apresentação escolar, possui, nesta lamentação, toda uma pressão de aperto que não cabe num cérebro ainda tão imaturo; e alguém, ao se sensibilizar por um vídeo ou por uma foto, é tomado por várias outras emoções. De modo impreciso, nunca se chora apenas por uma derrota futebolística; nenhuma lágrima é apenas por ver o filho em cima do palco, e nenhum palco seria mau o suficiente para assistir as lágrimas de uma criança; nenhum pranto, por fim, reside isolado numa imagem ou num vídeo.

Ver o filho pequeno chorar porque o time pelo qual ele torce perdeu uma competição pode ser algo muito sério e talvez bastante profundo. Em outras palavras, pode ser muito mais que apenas lágrimas pelo time em si, e não deveria ser motivo de graça ou pena por parte dos pais; ver um adulto chorando pelo mesmo motivo pode ser algo ainda pior, pois já que um adulto é incapaz de se manter em equilíbrio, quando tomado por alegria, tristeza ou raiva, numa situação simplória como uma partida de futebol, o que esperar dele numa situação verdadeiramente desconsoladora, como a que a família Joad, de Steinbeck, viu-se obrigada a passar?