Caro
leitor, começo este breve artigo com uma pergunta objetiva: você já ouviu falar
na liberdade de cátedra? A Constituição de 1988 diz em seu artigo 206:
II – Liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.
A
palavra-chave aí é, sem dúvida, “liberdade”. Como anda a liberdade do professor
nas aulas virtuais, nesses tempos de pandemia? Resposta: ele praticamente não a
possui.
O
professor tem sofrido uma marcação cerrada durante suas aulas. Além do fato de
as aulas serem uma tremenda bagunça, algo que eu já mencionei no artigo
anterior, intitulado “Pobre educação”, essas mesmas aulas sofrem quase o tempo
todo a influência dos pais, que vez ou outra se sentem na liberdade de
interferir no andamento das matérias e na dinâmica do professor – quando não
diretamente, indiretamente –, sofrem também a influência da escola, que quando
não relaxa a esses pais – que, diga-se, geralmente pouco entendem de educação
–, monitora integralmente as aulas, eventualmente também interferindo nos
assuntos que são de incumbência do professor, e, o que é ainda muito pior,
exige que as aulas sejam gravadas.
Algumas
almas maldosas poderiam questionar que se o professor é íntegro, ele não tem o
que temer. O fato, entretanto, é que a todo momento estão tentando podar o
professor e sua matéria, geralmente para atender demandas de pais chatos, o que
é extremamente prejudicial para a educação. Ora, se o professor está dando suas
aulas na presença de pais e de membros da escola, isto o intimida ou não? Isto
intimida ou não os alunos, que seguramente deixarão de falar o que falariam em
condições normais? Veja bem, não é questão de esconder o que se tem a dizer, é
questão de não trabalhar com um chicote nas costas. Não sugiro aqui que os pais
deixem os alunos sozinhos com seus computadores, isso também poderia ser
temerário, mas meu ponto é a interferência sem motivo. Ainda, se o planejamento
da disciplina é entregue todo início de ano, por que essa interferência quase
contínua da escola nas aulas? Se presencialmente não é assim, virtualmente
também não deveria ser. Se a escola não confia em seu professor, por que não o
dispensa?
Essa
pressão descabida que os pais e a escola estão colocando sobre os ombros do
professor é maléfica para as crianças, para a educação e para a Constituição,
que se diz democrática, e isso fere, sim, a liberdade de cátedra e a Carta
Magna brasileira.
Que
isso seja consertado urgentemente e que não vire uma tendência para as aulas
presenciais. Estão conseguindo piorar o que parecia que não tinha mais para
onde cair: a educação brasileira. Tome tento, sociedade!