terça-feira, 27 de outubro de 2020

Liberdade de cátedra

 

Caro leitor, começo este breve artigo com uma pergunta objetiva: você já ouviu falar na liberdade de cátedra? A Constituição de 1988 diz em seu artigo 206:

II – Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.

A palavra-chave aí é, sem dúvida, “liberdade”. Como anda a liberdade do professor nas aulas virtuais, nesses tempos de pandemia? Resposta: ele praticamente não a possui.

O professor tem sofrido uma marcação cerrada durante suas aulas. Além do fato de as aulas serem uma tremenda bagunça, algo que eu já mencionei no artigo anterior, intitulado “Pobre educação”, essas mesmas aulas sofrem quase o tempo todo a influência dos pais, que vez ou outra se sentem na liberdade de interferir no andamento das matérias e na dinâmica do professor – quando não diretamente, indiretamente –, sofrem também a influência da escola, que quando não relaxa a esses pais – que, diga-se, geralmente pouco entendem de educação –, monitora integralmente as aulas, eventualmente também interferindo nos assuntos que são de incumbência do professor, e, o que é ainda muito pior, exige que as aulas sejam gravadas.

Algumas almas maldosas poderiam questionar que se o professor é íntegro, ele não tem o que temer. O fato, entretanto, é que a todo momento estão tentando podar o professor e sua matéria, geralmente para atender demandas de pais chatos, o que é extremamente prejudicial para a educação. Ora, se o professor está dando suas aulas na presença de pais e de membros da escola, isto o intimida ou não? Isto intimida ou não os alunos, que seguramente deixarão de falar o que falariam em condições normais? Veja bem, não é questão de esconder o que se tem a dizer, é questão de não trabalhar com um chicote nas costas. Não sugiro aqui que os pais deixem os alunos sozinhos com seus computadores, isso também poderia ser temerário, mas meu ponto é a interferência sem motivo. Ainda, se o planejamento da disciplina é entregue todo início de ano, por que essa interferência quase contínua da escola nas aulas? Se presencialmente não é assim, virtualmente também não deveria ser. Se a escola não confia em seu professor, por que não o dispensa? 

Essa pressão descabida que os pais e a escola estão colocando sobre os ombros do professor é maléfica para as crianças, para a educação e para a Constituição, que se diz democrática, e isso fere, sim, a liberdade de cátedra e a Carta Magna brasileira.

Que isso seja consertado urgentemente e que não vire uma tendência para as aulas presenciais. Estão conseguindo piorar o que parecia que não tinha mais para onde cair: a educação brasileira. Tome tento, sociedade!