sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Cidade feliz para espíritos infelizes

Fico um pouco cansado de ver que as discussões acerca do governo municipal de São Paulo, que mal se iniciou, se dão somente nos âmbitos secundários. É como se liberar grafites, ou manter a velocidade das marginais em X km. fossem resolver os problemas da cidade. Inclusive foi desses assuntos que o governo anterior se ocupou: principalmente demagogia cultural. Mundo afora, mexer com artista é um problema. É uma espécie melindrosa. Só não o são quando o partido vigente os agrada. Por exemplo, em 2002, não houve barulho algum quando Marta Suplicy fez praticamente os mesmos planos com a estética da cidade. Avante.

Uma cidade contemporânea não se constrói através de alusões a circos, isto se dá somente numa sociedade demagoga comandada por governantes demagogos. A classe artística é uma classe chata, uma classe que persegue, e não somente uma classe que é vítima de uma sociedade com uma educação aquém do aceitável.

Uma cidade contemporânea, ainda, se dá, acima de tudo, mediante serviços básicos de boa qualidade; o mínimo de poluição possível, seja ela visual, sonora ou do ar (já que todas, comprovadamente, fazem mal); arquitetura; conservação de patrimônio histórico, globalização em geral... Aqueles que querem uma cidade colorida precisam, antes de tudo, melhorar sua autoestima, mas isto já é da ala da psiquiatria.

A miscigenação, a consciência sobre a disparidade social, as várias tribos existentes cidade afora não se dão, nem principalmente deveriam se limitar, a ilustrações espalhadas pelas ruas; esta luta é pouco ambiciosa, e só faz aumentar algumas desigualdades: a elite tem sua arte e a periferia tem a sua. Este é mesmo um pensamento agregador?

O espaço público pertence a todos, e não a um coletivo ou a uma tribo. E o governante que monopolizá-lo ou entregá-lo a seus pares está sendo pouco republicano. Nem toda expressão é arte, e nem toda arte é democrática.

Pessoas que almejam uma cidade esteticamente “feliz”, a querem para atenuar seu espírito pobre, melancólico e infantil.