Fico um pouco cansado de ver que as discussões acerca do governo municipal de São Paulo, que mal se iniciou, se dão somente nos âmbitos secundários. É como se liberar grafites, ou manter a velocidade das marginais em X km. fossem resolver os problemas da cidade. Inclusive foi desses assuntos que o governo anterior se ocupou: principalmente demagogia cultural. Mundo afora, mexer com artista é um problema. É uma espécie melindrosa. Só não o são quando o partido vigente os agrada. Por exemplo, em 2002, não houve barulho algum quando Marta Suplicy fez praticamente os mesmos planos com a estética da cidade. Avante.
Uma cidade contemporânea não se constrói através de alusões a circos, isto se dá somente numa sociedade demagoga comandada por governantes demagogos. A classe artística é uma classe chata, uma classe que persegue, e não somente uma classe que é vítima de uma sociedade com uma educação aquém do aceitável.
Uma cidade contemporânea, ainda, se dá, acima de tudo, mediante serviços básicos de boa qualidade; o mínimo de poluição possível, seja ela visual, sonora ou do ar (já que todas, comprovadamente, fazem mal); arquitetura; conservação de patrimônio histórico, globalização em geral... Aqueles que querem uma cidade colorida precisam, antes de tudo, melhorar sua autoestima, mas isto já é da ala da psiquiatria.
A miscigenação, a consciência sobre a disparidade social, as várias tribos existentes cidade afora não se dão, nem principalmente deveriam se limitar, a ilustrações espalhadas pelas ruas; esta luta é pouco ambiciosa, e só faz aumentar algumas desigualdades: a elite tem sua arte e a periferia tem a sua. Este é mesmo um pensamento agregador?
O espaço público pertence a todos, e não a um coletivo ou a uma tribo. E o governante que monopolizá-lo ou entregá-lo a seus pares está sendo pouco republicano. Nem toda expressão é arte, e nem toda arte é democrática.
Pessoas que almejam uma cidade esteticamente “feliz”, a querem para atenuar seu espírito pobre, melancólico e infantil.