segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Geração da Vergonha

A cada dia, andando pelas ruas dessa cidade, agora, estranha, é notório o individualismo imperado na mente das pessoas. Não há tempo para observar o outro, tampouco há tempo para notar algumas poucas belezas naturais. Ainda, não há tempo para perceber a cultura que faz de alguns pontos sua moradia.

Passos longos, num olhar fechado e insatisfeito, fica evidenciado a infelicidade no semblante de cada ser que atravessa nosso caminho. Em todo lugar; a todo instante. Cada um objetivando sua própria procura pelo sucesso e prazer. Mas, ao subir das escadas, está a moradia da depressão. Quando não estão correndo rumo aos caminhos misteriosos, estão fechados em solidão, mesmo que rodeados de pessoas.

Sim, é claro que não podemos descartar a culpa ao sistema que rege o mundo. A caça ao tesouro transforma seres bons em viciados. Não estou falando em drogas ou jogos, estou falando sobre tecnologia. Vivemos a época da incomunicação, mesmo com tantos meios de ceder informação. São tantas notícias, avisos e opiniões, que tais se perdem quando chegam aos ouvidos. E não comunicam nada. (Manifesto, também, aqui, minha posição contrária aos sistemas que alguns pseudo-revolucionários querem impor ao mundo, derrubando qualquer tipo de poder e proliferando a desordem e o relativismo moral).

O que vemos, hoje, é uma sociedade hedonista. O somente pensar em si, cria nojentos individualistas. Somente o prazer próprio é o que importa. Assim, vemos uma sociedade puramente consumista e contaminada pela perseguição ao poder, principalmente, sobre o outro, mesmo que inconscientemente. O famigerado “eu quero um também” ou “eu tenho um igual”, ou, ainda, “o meu faz isso, isso e isso”, ou, então, “É inconcebível a ideia de todos os meus vizinhos terem uma TV LED de 42 polegadas e eu ainda viver na era analógica e possuir uma TV de tubo.” O que se é esquecido, é que enquanto temos o “poder” sobre o outro, seja em possuir mais ou melhores bens ou termos mais informações das coisas, nós é que somos as vítimas; ingênuos, se preferir. Somos nós, com toda nossa ganância, o público alvo das grandes empresas que, a cada dia, enriquecem um pouco mais. Somos nós, o público alvo de um sistema que espalha a desigualdade. Somos nós, também, que criticamos tal sistema. Somos nós que temos pena de um pobre ferido pela enchente ou morto nos incêndios daquela favela. Somos nós, os primeiros a criticar e chorar pela pobreza na África. Somos nós, cúmplices culpados.

A cada desastre que acontece no mundo, estamos a chorar e procurar os culpados, para, assim, condená-los. Contudo, somos nós a dar audiência para os meios de comunicação que fazem da tragédia e sofrimento humano, um espetáculo. A insensibilidade é tanta, que não mais nos importamos em ver, na TV, a notícia sobre a queda de um avião com centenas de mortos, enquanto almoçamos. É tanto individualismo reinando nos corações, que somente perdemos o apetite ou a vontade de registrar com fotos uma catástrofe, quando alguém de quem amamos é a vítima. E ainda temos que ver as pessoas chorando pelas outras. Tremenda demagogia. Eu sei... é bonito e poético chorar pelo outro. É sublime mostrar tristeza pelo sofrimento alheio. Isso é uma sensibilidade falsa da pior que existe. Muitas pessoas sentem prazer na derrota da outra. “Eu consegui e é isso o que importa.”; “Estou a salvo, graças a Deus.”

Ninguém se importa com o pesar do outro, e as lágrimas não valem nada. Se uma mãe assiste uma fatalidade na qual muitos jovens pereceram, ela chorará e dirá ao filho: “Está vendo, meu filho, por isso, não gosto que você vá a esse tipo de lugar. Viu só o que aconteceu com aquelas pessoas?! Coitada daquelas mães.”

Na verdade, a maioria faz sem maldade. Mas quando uma autoridade política chora na frente da imprensa por ver uma tragédia, o sangue ferve. Vivemos uma época em que a moral é relativa e de acordo com os gostos de cada um.

Enfim, o que ilustra nosso mundo pós-moderno e o que nos fará ser lembrado pelas gerações futuras são o hedonismo e individualismo, a busca incessante pelo poder, o relativismo moral e o que ainda é mais cruel, a dor alheia espetacularizada.

E, evidentemente, isso tudo só nos tornará cada vez mais solitários, insatisfeitos, depressivos e, lógico, a geração da vergonha.