domingo, 3 de abril de 2016

Felicidade Pós-Moderna - Uma Busca Incessante pelo Nada

O conceito pós-moderno de felicidade é a principal razão de haver tanta infelicidade pairando sobre as pessoas. E, de início, já faço uma sugestão literária: “Modernidade Líquida”, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Na obra, o autor aborda questões essenciais, como hedonismo, individualismo, socialização, entre outras.

A escravidão que nos traz a busca incessante por aquilo que se acredita ser prazer destrói qualquer tentativa da busca por uma felicidade saudável. Deste modo, procuro na contradição da referência ao período helenístico, sobretudo com Epicuro, a solução para esta escravidão, isto é, é mais provável alcançar a felicidade impondo limite ao prazer, do que o contrário. O exímio Arthur Schopenhauer nos ensinava, já no século XIX, que o desejo traz duas humilhações: a primeira é a de não conseguir realizá-lo, e a segunda, e pior, a de realizá-lo, pois quando se realiza, não é mais aquilo que se queria.

Há, ainda, outro aspecto importante para se pensar felicidade, e este é o sofrimento. Aquele que tem consciência da finitude humana, ou seja, de sua própria finitude, caminhará seu destino de forma menos superficial, fazendo com que sua travessia pelo rio da desilusão seja mais serena.

Abordo, por último, a tentativa ininterrupta de fuga daquilo que kierkegaard chamava de angústia como sendo o centro da alma humana.

1- Estágio Estético: pensar ser possível escapar da angústia sentindo coisas, isto é, comer, beber, comprar etc. Segundo kierkegaard, não funciona, pois uma hora não faz mais efeito, e você cairá na angústia;

2- Estágio Ético: achar-se uma pessoa ética e boa; pensar que se você for uma pessoa ética, encontrará a felicidade, mas, como dizia o pensador, não funciona, e cairá na hipocrisia;

3- Religioso: imaginar que fugirá da angústia seguindo uma doutrina religiosa pura e simplesmente. Dizia também não funcionar, pois, à medida que isto acontecer, você virará aquilo que, na discussão teológica contemporânea no debate do judaísmo, chama-se judaísmo behaviorista, isto é, realizar as coisas somente porque a lei manda, sem envolver o coração. Assim, você viverá de acordo com a doutrina, mas a angústia o comerá internamente.

Para encerrar, faço uma citação à obra de Dostoiévski, “O Sonho de um Homem Ridículo”, na qual a personagem, um homem deprimido, só conseguiu sair do estágio de tristeza ao reconhecer as imperfeições do mundo, e este ponto é frontal contra a tirania contemporânea da felicidade, pois a hipótese da tirania diz que se você for certinho e não participar das desgraças do mundo, então assim será feliz. O homem ridículo, em contrapartida, só foi feliz quando descobriu a desordem.

Por fim, o amor só vive onde existe infelicidade.

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