Aqui embaixo choram
joões e josés,
e as rosas já não
falam.
Choram cartolas
e as botinas da guerra
da vida.
Aqui embaixo,
enquanto chegam as
lágrimas ao peito,
outras já esperam sua
vez.
E choram e se calam e
se reprimem
porque são calados,
porque são reprimidos,
esquecidos,
ludibriados, traídos.
Ah, pessoas da sala de
jantar,
entretidas, embora
insatisfeitas,
a panis et circenses.
E aqui eu me defino,
aqui,
embora insatisfeito,
sob histórias e memórias,
sob Blanc, o Aldir, que
um dia chorou
com as marias e as
clarices,
de Fiel e de Herzog,
na terra de Henfil e
dos joões e dos josés e
das marias, das
clarices e das rosas.
E salas de jantares
mundo afora,
domésticas e babás e
mordomos e choferes
servem a quem está
seguro em sua
comodidade e seu
conforto,
enquanto aqui embaixo
se pisa em campo minado
e vê-se apenas um
doloroso fogo cruzado
de partidos, demagogos,
populistas e canalhas
e ricos que lutam por
preservar a sua riqueza,
e sua pureza? Ah, esta
já se foi,
e o que sobrou foram
uma educação tacanha,
uma fila inesgotável
nos corredores da morte
de hospitais sem
humanidade, um verdadeiro
salve-se quem puder,
enquanto ricos,
líderes, demagogos, populistas e canalhas
deliciam-se com seus cabernets e seus banquetes,
às custas de uma
democracia provinciana, vulgar,
às custas de quem
apenas tenta sobreviver,
e é triste ver que isso
basta para um sorriso,
um tanto tímido, é
verdade,
um tanto retraído, um
tanto esperançoso.
E quanto mais se luta,
mais se regride,
segundo o entendimento
da ilusão amarga que se retroalimenta em nós,
porque tantos não
querem o progresso além do seu,
não querem a felicidade
que nasce do chão,
o mesmo chão que pisam
patrões com seus
sapatos de diamantes, e
sobram quilates
e sobram escárnios e
sobra fome e sobra miséria.
Mas nas datas
comemorativas,
nós, os joões, josés,
marias, rosas e clarices
somos homenageados.
Uns parabéns ao
professor,
que não tem liberdade,
nem apoio, nem dinheiro,
mas é seu dia;
uns parabéns ao
artista,
que não vive de sua
arte, já que precisa viver;
uns parabéns às mães e
aos pais e aos avós,
que, em sua maioria,
não têm o que comemorar;
uns parabéns à
independência do Brasil,
cujos cidadãos não
desfrutam dessa autonomia;
uns parabéns à natureza
e à Amazônia,
que pouco a pouco se
esvaem;
ao índio, ao preto, ao
trabalhador, ao jornalista...,
que sorriem diante de
tais parabéns,
mas que choram nos
outros 364 dias do ano.
Minha repulsa, porém,
ao artista que se cala,
que se esconde, que se
fecha, ou que finge que não vê.
O medo que mata a alma
mata o progresso
e mata o amor.
E como Sísifo, eu
empurro uma pedra
montanha acima, apenas
para ser esmagado
e ter roubada minha
dignidade, meu orgulho,
mas parabéns ao
professor, o sísifo contemporâneo.
E na roda-gigante da
vida,
fez Drummond uma
pergunta à la Platão,
fez Drummond a pergunta
da vida:
“José, para onde?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário