domingo, 29 de setembro de 2019

O bom diálogo

Há alguns anos, ao presenciar dois alunos de uma mesma turma num conflito físico, convidei-os para uma breve conversa. Nela, expus que eles faziam parte da mesma equipe, e que deveriam, ao invés de duelar entre si, ajudar-se, e que a turma só teria a ganhar com sua união, já que a divisão, concluí, apenas enfraquecia o todo. Não fui ingênuo. Sabia que, apesar de eles terem demonstrado compreensão, no amanhã brigariam novamente, mas novamente lhes faria a mesma orientação, até que um dia o bom diálogo imperasse. Não tentei, com minha explanação, extinguir o debate, apenas mostrei que para que ele ocorra não é necessário que um tente eliminar ou intimidar o outro, e que apesar das diferenças – naquele caso eram poucas –, é possível que todos coexistam no mesmo ambiente exercendo mais que apenas a tolerância.

Talvez seja difícil vislumbrar atualmente, mas é, mais que possível, necessário que haja elegância no tratamento com o outro. É necessário entender que ainda que as adversidades sejam titânicas, todos padecemos das mesmas fraquezas, todos somos feitos da mesma essência, todos enfrentamos, no fim, a mesma luta. O exercício de compreender as visões e as ações do outro é um exercício que vale a pena ser colocado em prática, entendendo, evidentemente, que a conquista virá através de um processo muitas vezes dificultoso. Quem estuda um pouco de história, sabe que no mundo já houve épocas muito piores, com menos tolerância, com mais liberdade de excluir aquele que pensa diferente. Hoje, temos à nossa disposição todo um passado de sangue para nos mostrar que com um comportamento desses ninguém vence.

Se nós, cidadãos, semearmos nas crianças a semente da paz, da tolerância, da compaixão, da amabilidade e da generosidade, certamente estaremos também exercitando a nossa própria. E se fizermos com que as crianças entendam de fato que devem respeitar seu coleguinha e que devem se unir ao invés de encarar-se, certamente, como adultos, elas serão capazes de entender que todos nós, seres humanos, fazemos parte de uma mesma equipe, de um mesmo time, e que o mundo só tem a ganhar com nossa união. Ainda que jamais estejamos isentos de sentimentos nocivos, devemos promover o melhor de nós, mesmo que este esteja repousado nas profundezas de nossos corações; devemos fomentar a competição saudável, sempre. Como ensinou Sêneca, em Sobre a ira, não se pode evitar a irritação, mas pode-se impedir que ela cresça quando se manifesta.

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