A
partir de 2013, com as bombásticas manifestações que ocorreram país afora, as
pessoas, especialmente os jovens, passaram a ser mais presentes no campo da
política, e isso tem o lado bom e o lado negativo, como já afirmei em artigo
passado. O lado bom resta evidente: a participação num assunto de interesse
coletivo. O lado negativo, por outro lado, é que as coisas foram atropeladas.
As pessoas, de um modo geral, que nunca tiveram interesse nesse tipo de
assunto, ascenderam nele repentinamente, e raivosas. O “repentinamente” é ruim
pelo fato de as pessoas terem embarcado numa onda massiva, sem com isso
entenderem muito daquilo que replicavam, e o “raivosas” é ruim pelo fato de que
política é a arte do diálogo, com prudência e com discernimento.
Se
perguntarmos por aí o que é realmente direita e esquerda, certamente poucos
saberão; se perguntarmos por aí o que é, de fato, fascismo, comunismo e nazismo,
certamente poucos saberão; se perguntarmos por aí as diferenças objetivas entre
os variados sistemas políticos existentes, certamente poucos saberão; se
perguntarmos por aí a diferença entre sistema econômico liberal e conservador,
certamente poucos saberão; se perguntarmos por aí a diferença entre socialismo
utópico e socialismo científico, certamente poucos saberão. E são essas pessoas
que estão nas redes sociais vociferando e dando discursos. É claro que todos
têm o direito de se expressar, e o tema da política não é exclusividade de quem
estuda, mas o cidadão faria muito bem conhecer sobre o tema que aborda.
Mas
o pior de tudo não é isso, e agora chego ao ponto que gostaria. Política se faz
no dia a dia, no corpo a corpo, no contato, na empatia, na prática cidadã, na
luta..., política não deveria ser feita atrás de escudos, como celulares e
computadores. Essa prática no dia a dia, sim, está ao alcance de todos,
conhecendo ou não os conceitos políticos que mencionei acima. E quando me
refiro às práticas do cotidiano, não me refiro a sair levantando bandeiras de
partidos políticos pelas ruas ou gritando palavras de ordem. Para participar do
bom funcionamento da coisa pública não é necessário subir em palanques
partidários. Aquelas pessoas que estão no dia a dia dos trabalhos em prol de
sua comunidade (e aqui utilizo o termo “comunidade” de forma ampla, e não como
sinônimo de periferia, como erroneamente se faz por aí) fazem política; aquelas
pessoas que fazem algum trabalho voluntário em alguma ONG fazem política; aquelas pessoas que dedicam algum tempo de sua vida a fazer algum trabalho social fazem política; aquelas pessoas que não aceitam práticas anticidadãs no dia a dia fazem política.
Já
pensei eu, no passado, que ser um contribuinte como cidadão trabalhador era
suficiente, e que já estaria fazendo, portanto, minha parte, uma vez que
através desses impostos o governo promove a contrapartida aos munícipes. Mas eu
estava errado. Pagar impostos corretamente não basta. É preciso lutar pelas
melhorias públicas, estar a par e ser parte do andar da carruagem das decisões
políticas que nos envolve, sejam elas na Câmara Municipal, na Assembleia
Legislativa, no Congresso Nacional ou mesmo na direção do posto de saúde de seu
bairro ou na escolha de conselhos gestores diversos.
Você,
leitor, sabe ao menos o nome do subprefeito da região onde está seu distrito?
Sabe o que é distrito? Sabe o nome do diretor da UBS de seu bairro? Já fez algo
por sua comunidade? Já fez algo pelo próximo, sem ser dar esmola no farol, o
que só aumenta a miséria? (Quem afirma sobre o aumento da miséria não sou eu,
mas, entre outros, Malthus, Keynes e Dostoiévski.)
Pois
bem, comece por aí. Faça política de verdade! Gritar na frente do computador é
muito cômodo e não contribui em nada para a melhoria de seu bairro, menos ainda
de seu distrito, menos ainda de seu município, menos ainda de seu Estado e
muito menos de seu país. É fácil fazer propaganda de candidato A ou B e entrar
em brigas e fazer inimizades, é fácil bater no peito e menosprezar a opinião
alheia, mas no fim tudo isso não passa de promoção pessoal e de uma tentativa
de se autoconvencer de que se está fazendo algo de bom. Não está!
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