segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O Padre Contemporâneo

Sou católico de formação, praticante. Passei a vida, e ainda passo, a escrever e a defender a religião que é a base da cultura ocidental e também da oriental. Evidentemente não fecho os olhos para os erros confessos que ela, a Igreja, cometeu durante sua trajetória. É muito difícil, contudo, discutir religião hoje com pessoas que a única coisa que têm a dizer é “inquisição”. Mas não estou aqui para elogiar, apesar deste preâmbulo. À frente.

Talvez seja por um reflexo da sociedade contemporânea ou talvez apenas pelo “poder” que possuem, precisaria de um estudo mais apurado que eu não possuo no momento, mas atualmente a Igreja, pelo menos à nossa vista, não possui padres ou monges com características de pastores, perfil essencial a quem escolhe dedicar-se à vida religiosa; a vocação pastoral atinge um percentual muitíssimo baixo dos que aí estão a difundir a Palavra. E o que temos hoje? Padres e monges prepotentes, arrogantes, superiores, que não ouvem e que estão focados apenas em mostrar seu poder diante da comunidade à qual estão à frente.

O povo ali embaixo e eu, o padre, representante de Cristo, sobre o presbitério a falar e a expor todo meu conhecimento acerca da vida, da Palavra, do que é certo...

O que importa para a maioria dos religiosos, sobretudo aos que fazem parte de uma ordem ou de uma congregação, é a regra. A liturgia é mais importante que o valor humano. A toalha da cor certa sobre o altar, o posicionamento preciso dos “subordinados”, a forma e o momento que estes devem caminhar para cumprir sua tarefa, a quantidade de vezes que o sino deve ser batido no momento da consagração, o comportamento sistemático de todos os que participam (na verdade, assistem) da Santa Missa, o número de vezes que o turíbulo deve ser chacoalhado... Isso tudo está acima daquilo que está no coração de cada membro da assembleia, daquele que precisa de consolo; isso tudo está acima daquele que sofre, daquele que é parte viva da comunidade, sem a qual ela ficaria enfraquecida.

Ainda, muitos padres famosos e midiáticos depositam seu esforço em manter este status, e os que não o são criticam esse posicionamento sem perceber que fazem a mesma coisa em suas respectivas paróquias. De sorte a Igreja, no cânon 287 § 2º, proíbe o presbítero de exercer cargo político (ele pode se candidatar, mas precisa pedir licença da função), do contrário, a bagunça seria ainda maior, como é no mundo evangélico.

Devo lembrar que a Igreja mantém milhares de hospitais, dispensários, asilos, leprosários, orfanatos, jardins de infância etc. mundo afora, e, portanto, é evidente que ela, de modo geral, mantém seu foco no mais necessitado, como tem de ser. Por outro lado, estou a tratar do corpo a corpo no dia a dia, da relação micro, do contato humano com o paroquiano no cotidiano. Quase não se acha o padre no dia a dia, ele se tornou uma espécie de artista.

Não estou aqui a defender a bagunça total na Santa Missa, como faz o outro lado da moeda, como a Renovação Carismática Católica, quando transforma a celebração em show. A dedicação à liturgia séria é parte fundamental do trabalho, mas a que nível está atingindo esses presbíteros mais conservadores? A que distância eles estão ficando do povo que, diga-se, é a própria Igreja? Qual é o ápice de arrogância e ao mesmo tempo da ignorância que eles precisam atingir para notarem que estão passando dos limites? Quem os convenceu de que são realmente mais clarividentes que todo o restante que está presente em seu convívio? Os puxa-sacos de plantão, que aceitam e reverenciam tudo o que fazem? Não, eles não são o que pensam de si mesmos. A maioria desses presbíteros contemporâneos é totalmente prolixa na hora de falar, a maioria deles canta mal, a maior parte não sabe lidar com o povo, exatamente porque se enxerga acima dele. Talvez a única coisa na qual eles sejam bons seja mesmo na parte técnica, no conhecimento, mas se conhecimento bastasse, o Iluminismo ou o Marxismo ou o Idealismo teriam salvado o mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário