quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O Bem que Esperamos na Omissão

Sempre tive a concepção de que pagar os impostos em dia era o bastante para contribuir com a sociedade, já que este aporte tem por objetivo ser revertido em serviços públicos. De fato isso tem sua lógica, do contrário eu não teria deixado, por várias vezes, intelectuais sem saber o que dizer enquanto palestravam contra a classe média, dizendo que esta só pensa no próprio umbigo. Há uma tendência, principalmente por parte da esquerda romântica, em rebaixar a classe média e a classe alta com a justificativa de que sua única preocupação é com o bem-estar de sua família, e o restante que se “exploda”.

Aquela minha premissa de que pagar os impostos basta, é uma grande mentira na qual sempre acreditei. É necessário, mas não suficiente. Não basta o cidadão contribuir indiretamente com a saúde pública enquanto alimenta o setor privado desta área; não é suficiente contribuir indiretamente com a educação pública enquanto alimenta a educação paga. Numa republiqueta como a nossa, com uma democracia claramente escrachada, a sociedade ainda não acordou para o seguinte fato: nenhum serviço público melhorará enquanto não se enfrentar o verdadeiro inimigo, o lobby. Não é o caso de destruir o empresariado ou o serviço privado do país, também sempre fui contra esta premissa, é o caso de ser alertado que para um país funcionar com dignidade e justiça, o serviço público precisa funcionar decentemente, e este não funcionará enquanto houver pessoas lutando contra ele, que é na verdade uma luta contra a própria democracia.

Há uma força maligna em Brasília corrompendo e sendo corrompida. Enquanto houver um esforço desmedido por parte do setor privado em derrubar, por exemplo, o colégio público apenas para que a universidade pública sirva exclusivamente para os seus, como fez Fleury Filho no governo de SP, a educação não será eficiente. Neste caso, não adianta injetar nem 50% do PIB na educação. E qual é a solução que uma ala da sociedade encontra? Cotas. Não! Deve-se lutar contra o lobby da indústria educacional. Veja bem, não quero destruir a educação privada, só não quero que destruam a pública. Deve-se lutar contra as ações do governo em investir em colégios particulares. Sim, nosso governo fornece verba para seu concorrente direto, assumindo, assim, que o serviço que ele próprio presta não é bom. O próprio Prouni é uma afronta do Estado com seu próprio serviço.

Enquanto houver um esforço por parte de convênios médicos e hospitais particulares para derrubar o SUS apenas para que a sociedade adquira cada vez mais o serviço privado, o serviço de saúde não será eficiente, independentemente de quanto dinheiro se invista. É nosso imposto indo para o ralo. Enquanto os congressistas não pararem de se vender, nós aqui embaixo continuaremos a lutar para sobreviver, nos degradando um a um.

Em época de eleição, é comum ouvir pessoas com os famigerados discursos clichês pedindo mais saúde, mais educação, mais segurança e blá-blá-blá, mas o que será que elas estão fazendo para contribuir? Afinal, somos ou não somos partes vivas de uma mesma célula?

Eu disse que há uma força em Brasília corrompendo e sendo corrompida, mas o que nós estamos fazendo para contribuir com nossa sociedade? O que fazemos além de reclamar da política ou de candidato A ou B? Em quem você votará para deputado federal/estadual e senador? São esses deputados e senadores que se vendem para o lobby que acabo de mencionar. Como você, no dia a dia, cobra os agentes públicos nos quais você votou? Manda ao menos um e-mail, que é facilmente encontrado na rede? E se não votou, de que outra forma contribui? Acompanha os projetos que ele, o parlamentar, cria, relata, aprova? O que você faz no dia a dia por aquele que mais precisa de auxílio? O que você faz além de sentir pena dos mais pobres quando estes são assolados por tragédias já anunciadas? O que você faz além de ficar satisfeito que a tragédia não foi com um dos seus? O que você faz além da internet? O que você faz pelo bem social além dos discursos raivosos na rede, ou além de defender bandidos travestidos de políticos? Por fim, o que você faz em prol de seu semelhante?

A redoma envolta em paredes digitais é o melhor escudo para os covardes e omissos.

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