terça-feira, 18 de setembro de 2018

O Perigo de Elegermos Bolsonaro

Escrevo este artigo impulsionado por uma coluna do jornalista William Waack, publicada no Estadão ainda este mês.

O jornalista passou dois meses estudando e entrevistando a alta patente da ativa das três armas. Considerei as posições preocupantes, apesar de não haver, por enquanto, nenhum tipo de ameaça evidente. Inclusive, os militares, desde o início das discussões acerca da volta da ditadura militar que uma ala da sociedade trouxe à tona, sempre negaram qualquer tipo de possibilidade de qualquer tipo de intervenção militar. A coluna de Waack, no entanto, traz alguns alertas:

“Oficiais generais não manifestam qualquer disposição para a tal ‘intervenção’ militar. Mas se perguntam, sem conseguir responder, o que fazer se houver rompimento de um tecido social já ‘esgarçado’ (expressão muito usada por eles). O cenário mais temido é a quebra de lei e ordem ‘no caso de uma besteira qualquer do STF beneficiando o Lula’ ou, pior, da reconhecida falta de contingentes para atuar no caso de greves de PMs ou a paralisação do País por bloqueios simultâneos de rodovias.”

Em qualquer tipo do tal “rompimento de um tecido social”, seja lá o que isto signifique, o exército nada pode fazer sem uma ordem direta dada a ele. Essas indagações não devem ser levantadas pelas Forças Armadas ou por alguém que fale em nome delas. A coluna apresenta ainda:

“Oficiais de alta patente já admitem a possibilidade de um presidente Jair Bolsonaro (‘para nós não é mais capitão, é um político civil’), em relação a quem não mais se declaram refratários, embora lhe atribuam escassa sabedoria política e pouca capacidade de articulação para enfrentar um Congresso provavelmente hostil.”

Capitão é sempre capitão e general é sempre general. Não há garantias para nós de que caso um capitão assuma a chefia do Estado, seus então superiores passarão a ser seu subordinado, sobretudo quando esses superiores o enxergam como alguém com “escassa sabedoria política e pouca capacidade de articulação”. O general Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro, forneceu-nos algumas visões perigosas. Defendeu ele uma nova Constituição, mas, veja só, sem o Congresso. Citou-nos exemplos de Constituições brasileiras feitas sem o Parlamento, mas não se ateve, todavia, que à época em que ocorreram tais eventos, o Brasil ou era monarquia absolutista ou ditadura. Ainda, o general deixou claro que esta não é uma proposta de Bolsonaro, o que torna a coisa ainda pior, já que é o general falando além do capitão. Como será esta chapa na prática?

Não há duvida, ainda, de que, caso Bolsonaro seja presidente da República, os ministérios, em grande parte, serão ocupados por militares. Ele mesmo já admitiu a possibilidade em sabatinas. O próprio PSL é um abrigo de combatentes. Concorrendo ao Senado, por exemplo, está o major Olímpio.

Volto à minha observação anterior: generais no comando de ministérios comandados por um chefe de Estado capitão. O prognóstico não pode ser bom. Afirma a coluna de Waack:

“O general Heleno é um dos principais canais entre Bolsonaro e setores superiores da ativa, em que se ouve o palpite de que ‘Bolsonaro daria um tiro certo se nomeasse o Heleno seu chefe da Casa Civil, pois tem cabeça política melhor que a dele, e se pusesse um civil no Ministério da Defesa’, disse um general de destaque.”

Ainda, se Bolsonaro tentar implantar qualquer coisa parecida com uma ditadura no país, e isso não é remoto como sua base de raciocínio, a possibilidade de uma intervenção por parte de seus superiores na patente militar é ainda maior. É claro que hoje nossas instituições são fortalecidas e temos uma imprensa forte e livre, mas ainda assim há tal risco, já que o Congresso brasileiro é montado por gente fraca e covarde.

O ponto é, portanto, que nenhum militar reformado de baixa patente e que tem cabeça no lugar busca ser chefe de Estado; patente inferior não deve ser colocada acima dos generais, como afirma o professor e intelectual Cacildo Marques.

O Brasil tem precedente nesse assunto, só não enxerga quem não quer. Em 1956, lembra Cacildo, a Aeronáutica tentou dar um golpe no então eleito coronel da PM Juscelino Kubitschek, e somente não foi bem sucedido porque o marechal Lott apaziguou a situação, do contrário, teria havido uma guerra civil no país. No mundo, e encerro, houve outras tentativas de golpe contra a baixa patente. Cito dois exemplos: contra o cabo Hitler e, mais recentemente, contra o coronel Hugo Chávez.

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